Normalmente, alguns sinais são bem característicos para diagnosticar problemas de saúde. Porém, algumas doenças podem ter sintomas diferentes ou se manifestarem mais em homens e mulheres, como as que listamos a seguir.
Ataque cardíaco
Enquanto nos homens o infarto tem como sintomas clássicos dor no peito, irradiando para o braço, com sudorese e palidez, nas mulheres os sinais são totalmente diferentes. Nelas, é mais comum a falta de ar, náusea ou vômito e dor nas costas ou na mandíbula. E isto provavelmente é explicado pelo fato de que as doenças cardíacas nos homens são, geralmente, causadas por obstruções nas artérias coronárias.
“Já as mulheres podem até ter um infarto, mas sem haver obstrução coronária significativa. Elas desenvolvem mais frequentemente doença microvascular, ou disfunção de artérias muito fininhas que se ramificam das coronárias e não podem ser vistas pelo cateterismo”, explica Fernanda Mangione, cardiologista intervencionista e diretora de tecnologia em saúde da SBHCI (Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista).
E as notícias são ainda menos agradáveis para elas, já que as mulheres são mais propensas a morrerem após um ataque cardíaco. Isso porque a doença no sexo feminino geralmente não ocorre em um ponto isolado do coração, o que deixa as veias coronárias mais machucadas.
“Sem esquecer que existe uma diferença de calibre entre as veias do coração da mulher (que é menor) em comparação ao do homem. Então, quando há um comprometimento de uma artéria responsável pelo infarto, esse problema costuma ser mais extenso nelas”, aponta Leopoldo Piegas, cardiologista do HCor, em São Paulo.
Acidente vascular encefálico
As doenças cardiovasculares, como o AVE, classicamente acometem mais homens que mulheres. Porém a situação vem mudando. O número da doença em mulheres cresce mais que nos homens, chegando até a ultrapassar, de acordo com dados da SBC (Sociedade Brasileira de Cardiologia).
E isso vem acontecendo porque elas passaram a sofrer dos mesmos fatores de risco que eles, que são: hipertensão arterial, diabetes, dislipidemia (gordura no sangue), obesidade, sedentarismo e tabagismo. “Um dos possíveis motivos (para o crescente número de casos entre mulheres) é a mudança comportamental devido ao aumento da carga de trabalho e dupla jornada (trabalho + serviços domésticos).
Outros fatores que poderiam influenciar são: genética, uso de anticoncepcional oral e presença de enxaqueca, mais comum no sexo feminino”, esclarece Fabio Porto, neurologista do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
Gonorreia e clamídia
Caracterizadas por inflamação na mucosa genital, essas duas ISTs apresentam menos sintomas nas mulheres. E a explicação está na anatomia do corpo feminino. Como elas têm os órgãos genitais todos internos, existe o maior risco da mucosa estar inflamada sem apresentar sinais. E por conta disso, o problema pode evoluir.
“A clamídia e a gonorreia podem levar às doenças inflamatórias pélvicas que, se não diagnosticadas e tratadas são, talvez, uma das principais causas infecciosas para infertilidade em mulheres”, alerta Rico Vasconcelos, infectologista da FMUSP (Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo) e colunista de VivaBem.
Esclerose múltipla
Os homens são mais propensos a desenvolverem doenças que afetam o sistema imunológico, mas a esclerose múltipla pode atingir de duas a três vezes mais as mulheres. “A razão ainda não é completamente conhecida”, afirma Aline Turbino, neurologista mestre em neurociências pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro da SBN (Sociedade Brasileira de Neurologia).
De acordo com a especialista, o sistema imune delas funciona de forma diferente. “Além disso, os hormônios sexuais femininos, como o estrogênio e a progesterona, podem afetar o sistema imunológico, o que pode acarretar na esclerose múltipla”, acrescenta. Há também uma questão genética, o que faz com que as mulheres tenham maior propensão aos genes envolvidos na doença no comparativo com os homens.
Calvície
Chamada pelos especialistas de alopecia androgenética, o problema acomete mais os homens do que as mulheres. “Isso por conta de fatores genéticos e também por estar relacionada a ação da testosterona no corpo”, afirma Damaris Ortolan, dermatologista e tricologista da SBD (Sociedade Brasileira de Dermatologia).
A calvície, geralmente, se inicia após a puberdade masculina com as famosas “entradas” (recessão bitemporal), que podem evoluir para o topo na cabeça. Na maioria das vezes, a parte posterior da cabeça se mantém com cabelo.
Estresse
As mulheres buscam mais ajuda quando estão estressadas na comparação com os homens. “Os estudos mostram que a prevalência de transtornos de ansiedade é maior no sexo feminino do que no masculino a uma proporção que se aproxima de duas mulheres para cada homem. Deste modo, é de se esperar que em números absolutos mais mulheres tendam a expressar a ansiedade do que os homens”, afirma Henrique Bottura, psiquiatra da Clínica Psiquiatria Paulista e colaborador do ambulatório de impulsividade do HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo.
E isso se dá, em parte, por uma questão cultural, ou seja, elas não veem problema em procurar um especialista quando percebem que algo está afetando o seu emocional.
Por outro lado, existe, também, a parte orgânica. “A mulher tem o ciclo menstrual que impõe alterações hormonais, que acarreta em mudanças de humor e afeto. Então, essa consciência de oscilação nos sentimentos está mais presente na vida das mulheres. Por isso, elas têm uma maior capacidade de percepção e sensibilidade a isso e, em consequência, também uma sensibilidade maior a sintomas psicossomáticos”, aponta Nikolas Heine, psiquiatra do Hospital 9 de Julho, em São Paulo.
Já a maioria dos homens, por serem educados desde pequenos a reprimirem sentimentos e desconfortos, podem apresentar mais sintomas físicos quando estão estressados, como formigamento ou dor torácica. “Além disso, existem também os fatores genéticos que resultam diferenças na resposta aos estímulos entre homens e mulheres”, diz Bruno Funchal, neurologista do Hospital Santa Paula, em São Paulo.
Acne
Mesmo que na adolescência as espinhas possam surgir mais nos homens, com a chegada da vida adulta, são as mulheres que podem mais sofrer com o problema. “A chamada acne adulta tem relação com fatores genéticos e hormonais. Ocorre o aumento da ação dos hormônios androgênios, mas os exames laboratoriais geralmente não evidenciam alterações nos seus níveis, refletindo, portanto, uma maior sensibilidade da pele a estes hormônios”, analisa Gabriela Miquelin, especialista em tricologia e unhas, preceptora responsável pelo ambulatório de discromias/vitiligo do Departamento de Dermatologia da Universidade de Mogi das Cruzes e dermatologista na Clínica Stockli, em São Paulo.
Dor crônica
Geralmente, as mulheres são mais suscetíveis a desenvolverem dores crônicas do que os homens. E isso se dá porque algumas comorbidades que produzem esses problemas são mais prevalentes nelas, como fibromialgia, artrite reumatoide, lombalgia e enxaqueca.
Além disso, as dores crônicas nas mulheres tendem a durar mais e serem mais intensas. Um dos responsáveis por isso é a baixa produção de testosterona no organismo delas e também porque os hormônios acabam influenciando os receptores de dor periféricos, o que faz com que as mulheres tenham o limiar diminuído da dor.
“E também tem a questão de que a via de sinalização da dor no homem é diferente na mulher. Certos bloqueios que podem ser feitos para trazer o alívio da dor no homem não funcionam na mulher. E aí esbarramos no fato de que o tratamento é muito igual para ambos os sexos. Portanto, a terapia acaba sendo mais eficaz para ele, porque as vias que bloqueamos funcionam mais, o que justifica o motivo da dor ser mais frequente na mulher”, esclarece Vivian Palma Artissian, reumatologista da BP – a Beneficência Portuguesa de São Paulo.
Infecções do trato urinário
As mulheres, por uma questão anatômica do corpo, costumam sofrer mais com infecções urinárias do que os homens. Isso porque a uretra feminina tem 2 cm de comprimento e a masculina é muito maior, tem de 15 a 20 cm, o que acaba por proteger o homem, porque a infecção vem do meio externo para o meio interno. Então, como a uretra da mulher é curta, a chance de a bactéria entrar na bexiga é muito maior.
Porém, quando o homem tem o problema é mais difícil de tratar, já que, quase sempre, existe um outro fator que leva ao quadro infeccioso. “Na maioria dos casos, o problema está associado a dificuldade para urinar, quase sempre por aumento da próstata ou estenoses de uretra (estreitamento do canal). Nesse cenário, o paciente não consegue esvaziar totalmente a bexiga, o que leva ao problema”, explica Alex Meller, urologista da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e membro do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo.
Outras causas comuns em homens são: a presença de infecções prostáticas (prostatites) ou retais (uretrites), que por estarem em contato íntimo com as vias urinárias, contaminam a bexiga com bactérias.
Osteoporose
Desde cedo, grande parte das mulheres sabe que elas têm muito mais chances de desenvolver osteoporose do que os homens, principalmente após a menopausa. “Nesse período, em que há uma redução significativa da produção de estrogênio —hormônio responsável por evitar com que haja muita perda óssea ao longo da vida—, começa a haver um predomínio da danificação do osso em relação a formação óssea. Ou seja, o equilíbrio entre o quanto se formou na infância e na juventude e o quanto se perde, vai fazer com que haja, então, uma maior fragilidade dos ossos”, afirma José Eduardo Martinez, reumatologista especialista em dor e membro da diretoria executiva da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia).
Por outro lado, os homens com osteoporose que quebram o quadril têm duas vezes mais chances de morrer do que as mulheres que sofrem com o mesmo problema. “Ainda se discute muito as causas dessa diferença. Suspeita-se que o tipo de queda que levou à fratura nos homens seja mais traumático. Isso por conta do próprio peso ou pelas situações mais perigosas a que eles se submetem, ao número mais acentuado de comorbidades que os homens têm em relação às mulheres nessa faixa etária e, eventualmente, ao fato de se cuidarem menos do que elas”, aponta Renato Leça, professor da Faculdade de Medicina do ABC.
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