Pacientes reumáticos podem apresentar alterações no sistema imunológico. É o caso dos portadores de doenças como artrite reumatoide, espondililoartrites, artrite psoriásica, lúpus, esclerose sistêmica, síndrome de Sjögren, miopatias inflamatórias e vasculites. De natureza crônica, essas enfermidades são tratadas por imunossupressores. São medicamentos, que abaixam a imunidade para controlar a doença, mas podem reduzir a resposta do organismo à imunização. A Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) orienta esses pacientes a esclarecer dúvidas com seus médicos sobre a vacinação contra a covid-19.
A SBR acredita que que todos os brasileiros devem ser vacinados, mas ainda não existem evidências científicas se a segurança e a resposta imunológica a estas vacinas sejam adequadas a pacientes com doenças autoimunes. Daí a importância do compartilhamento da decisão do melhor momento da imunização entre médico e paciente. Os critérios analisados serão a idade do paciente, o grau de atividade da doença, as medicações em uso e as comorbidades. O ideal é que o paciente seja vacinado quando a doença reumática estiver estável ou em remissão.
No Informe Técnico da Campanha de Vacinação contra a Covid-19, emitido em 21 de janeiro, o Ministério da Saúde inseriu os pacientes imunossuprimidos, inclusive aqueles com doenças reumáticas autoimunes, no grupo prioritário para a imunização. A medida foi adotada porque essas pessoas apresentam maior potencial de desenvolver complicações da covid-19, o que pode levar a internações e ao até óbito.
Esse risco aumentado foi verificado em estudos populacionais, entre eles, o ReumaCov, realizado com apoio da SBR, cujos dados preliminares foram divulgados em novembro durante a 37ª edição do Congresso Brasileiro de Reumatologia. A análise inicial considerou dados de 338 pacientes com doenças reumáticas autoimunes, infectados pelo coronavírus. A maioria era mulheres, com idade média de 45 anos. O lúpus foi a doença reumática mais comum neste grupo, acometendo 32,9% dos participantes. Do total de pesquisados, 48% tiveram necessidade de atendimento médico, o equivalente a 160 pacientes. Desses, 110 (68,7%) foram internados e 50 (31,2%) necessitaram de UTI. O estudo completo envolve 1.200 pacientes e deverá ser divulgado este ano.
Pacientes com osteoporose, fibromialgia, gota e osteoartrite (artrose) e outras doenças reumáticas que não são autoimunes não apresentam risco aumentado para a covid-19, de modo que serão imunizados juntamente com o restante da população.
A escolha da vacina deve seguir as recomendações dos órgãos sanitários e regulatórios, assim como a disponibilidade local. Até o momento, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou para uso emergencial apenas duas vacinas, uma desenvolvida pelo Laboratório Sinovac/Instituto Butantan e outra pela Universidade de Oxford/Astrazeneca. Ambas não contêm vírus vivos, sendo potencialmente seguras em pacientes em uso de medicações imunossupressoras. No entanto, alguns desses medicamentos poderão reduzir a resposta a vacina. Por isso, a SBR orienta o paciente a manter a medicação e consultar o seu médico sobre a imunização.
A sociedade afirma que, mesmo vacinado, o paciente deverá manter as medidas de proteção, como o uso de máscaras faciais, o distanciamento social e a higienização das mãos, até que se possa avaliar a real proteção da conferida pela vacina e sua capacidade de conter a pandemia.
A SBR recomenda que todos os portadores de doenças reumáticas devem ser imunizados também contra a gripe e a doença pneumocócica, seguindo as recomendações do Programa Nacional de Imunizações (PNI) e Ministério da Saúde. Em caso de dúvida, o paciente deve conversar com o seu médico.
Para profissionais de saúde que tratam pacientes reumáticos, a entidade preparou um guia com orientações sobre a vacinação contra a covid-19. O documento foi elaborado com base em indicações de 28 especialistas integrantes de sua Diretoria Executiva, Comissão de Doenças Endêmicas e Infecciosas e da Força-Tarefa Covid-19, seguindo o protocolo de consenso de DELPHI. O Guia para Médicos e Profissionais de Saúde é formado por 16 perguntas e respostas e está disponível no site da SBR, www.reumatologia.org.br
*Gecilmara Salviato Pileggi, coordenadora Comissão de Doenças Infecciosas e Endêmicas da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), professora da Faculdade de Ciências Saúde Barretos (FACISB), coordenadora da unidade de ensaios Clínicos integrados do Hospital de Amaro de Barretos (HÁ Barretos), pesquisadora do Instituto de Ensino e Pesquisa (IEP- HA Barretos) e atua na área de reumatologia pediátrica
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