Um estudo realizado por pesquisadores da Universidade de Harvard relacionou o acúmulo de gordura na região mais profunda do abdome à maior probabilidade de sofrer de osteoporose, doença que fragiliza os ossos. Na pesquisa, feita com mulheres de diferentes pesos corporais na pré-menopausa, constatou-se que aquelas que tinham maior acúmulo de gordura visceral – presente nos órgãos localizados na região do abdome, como fígado e intestinos – apresentaram mais risco de ter densidade mineral óssea mais baixa, o que pode levar à osteoporose. As conclusões, entretanto, não mostraram de forma significativa essa mesma associação quando considerada a gordura abdominal, ou seja, aquela que se encontra logo abaixo da pele.
A presidente da Comissão de Osteoporose da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), a reumatologista Rosa Pereira, destaca o fato de todas as participantes terem sido submetidas a um exame de imagem conhecido como espectroscopia por ressonância magnética, que permitiu que os pesquisadores medissem os depósitos de gordura com precisão, incluindo o encontrado na medula óssea, responsável pela diferenciação celular.
“As mulheres com mais gordura visceral tinham também aumento de gordura na medula óssea e, consequentemente, menos células que originariam células ósseas”, explica a médica. Nessas pacientes, portanto, a medula produzia mais células adiposas, de gordura, do que ósseas – daí a maior probabilidade de surgir a osteoporose. Segundo Rosa, essa relação já tinha sido demonstrada com o uso de um fármaco para tratar o diabetes – as tiazolidionas –, com o qual se observou aumento do risco de fraturas nos pacientes.
“Foi constatado que a droga estimulava o desenvolvimento de células adiposas na medula, em detrimento das ósseas”, conta ela. A medicação acabou sendo retirada de circulação por conta deste efeito colateral. Apesar da estreita correlação entre gordura visceral e osteoporose, a reumatologista pondera que, usualmente, a doença é mais comum em pessoas com pouca gordura corpórea. “Na prática, observamos que quem é mais gordo tem menos probabilidade de desenvolver problemas ósseos”, assinala a médica. “Basta reparar que pessoas com osteoporose são magras e apresentam, em geral, um aspecto frágil”, continua. Rosa avisa, porém, que, muito mais do que a gordura, são os músculos que funcionam como melhor proteção à estrutura óssea. Para fortalecer os ossos, então, a ordem é malhar.