Reportagem do jornal O Globo trouxe à tona a discussão sobre o Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES), uma doença de tipo autoimune e de cunho inflamatório. Na reportagem, são fornecidas informações básicas sobre a doença, para que se possa conhecer melhor suas características.
Nesse sentido, o coordenador da comissão de LES da SBR, o reumatologista Evandro Klumb, explica em mais detalhes o que é a doença e os aspectos que envolve. Segundo ele, o LES pode apresentar sintomas em vários órgãos e que são decorrentes de uma inflamação local. Assim, diz Klumb, podemos classificar a LES como uma doença inflamatória. Além disso, o LES surge como resultado de um desequilíbrio no sistema imunológico, que leva a pessoa a produzir uma quantidade aumentada de autoanticorpos, condição que a caracteriza como autoimune. “Esses anticorpos quando se ligam em um ou mais órgãos determinam uma reação inflamatória, cujos sintomas são dor, inchação, calor local e vermelhidão”. E o que seria uma doença autoimune? “É aquela na qual o organismo não é capaz de bloquear a produção de anticorpos que reagem contra estruturas do próprio organismo.
A ligação desses anticorpos acaba por determinar uma reação inflamatória no local que esse anticorpo se liga”, explica Klumb, ressaltando que o desenvolvimento de uma inflamação. Ao mesmo tempo, é importante ressaltar que a inflamação é um mecanismo natural do nosso sistema de defesa e que ocorre sempre que acontece algum tipo de agressão como a causada por um corte na pele (que fica inflamada) ou por uma infecção na garganta (quando a garganta fica inflamada).
“Nas doenças autoimunes, o organismo reage contra componentes normais do corpo, inflamando o local (pele, rins, pulmão etc) sem que nenhuma infecção ou trauma tenha ocorrido previamente”, salienta o reumatologista. É também interessante saber que o nome lúpus tem origem na palavra em latim lupus, que significa lobo, porque alguns médicos achavam que a uma mancha que surge na face de algumas pessoas com LES teria um aspecto parecido com a que surge na face de alguns tipo de lobo.
Quanto à á definição “eritematoso”, explica Klumb, refere-se ao aspecto avermelhado (eritema=vermelho); e “sistêmico”significa o envolvimento do organismo como um todo. Klumb explica ainda que, de uma forma geral, há dois tipos de lúpus: um é o sistêmico que se caracteriza por apresentar (potencialmente) sintomas em vários órgãos como na pele, articulações, pulmões, coração, rins, etc e pode ter um curso grave (ou não).
Nesta forma sistêmica, também são comuns sintomas gerais com cansaço, desânimo, anemia, febre baixa e emagrecimento. O segundo tipo é uma doença que só apresenta sintomas na pele, ou seja, não há qualquer manifestação nos outros órgãos e é denominado lúpus cutâneo.
Sintomas do LES
Nas fases iniciais do LES, principalmente, diz Klumb, os sintomas que mais incomodam são os gerais, como desânimo, cansaço e perda de apetite. “A maioria das pessoas com LES também vai apresentar em algum momento, dor nas juntas, às vezes também com inchação (artrite)”, ressalta. Além disso, de uma forma geral, a metade das pessoas vai ter em algum momento da doença, inflamação na pleura (membrana que recobre os pulmões) ou no pericárdio (membrana que recobre o coração).
Também cerca de 50% dos pacientes com LES apresenta inflamação nos rins que interessantemente não determina dor rins, mas perda de proteínas na urina, inchação nas pernas e no rosto, hipertensão arterial e, nos casos mais graves insuficiência renal com necessidade de hemodiálise. Klumb explica também que as pessoas com LES podem ter ainda manchas de diversos tipos na pele. “Quando é apenas o lúpus cutâneo, a doença fica restrita à pele, sem acometimento de nenhum órgão interno, sendo dessa forma, uma doença bem mais leve”, diz o reumatologista.
Diagnóstico
O reconhecimento pelo médico dos sintomas característicos da doença, em associação com alguns exames é o meio de diagnóstico do LES. Segundo Klumb, os exames incluem hemograma, avaliação dos rins e pesquisa dos distúrbios imunológicos próprios da doença, como a presença de auto-anticorpos no sangue (FAN, anticorpo anti DNA, anticorpo anti Ro etc) e alterações em outros componentes do sistema imune.
Quanto ao tratamento, o objetivo é reequilibrar o sistema imunológico, além de controlar dor e inflamação. “A intensidade com que se busca esse reequilíbrio, e portanto da quantidade de medicamentos necessários para esse controle, depende fundamentalmente da severidade e extensão da doença”, salienta Klumb, explicando que, para os casos iniciais e mais leves, pode-se usar apenas a cloroquina ou hidroxicloroquina (que são imunomoduladores) e analgésicos. “Por outro lado, para os casos mais avançados ou mais graves, podemos necessitar empregar corticosteroides (cortisona) e imunossupressores.”
É importante ressaltar, conforme Klumb, que medidas gerais são essenciais para o reequilíbrio imunológico e, dentre essas medidas, chamamos a atenção para a necessidade de proteção contra a claridade ou irradiação solar (com o uso de fotoprotetores), suspensão do tabagismo, quando presente, afastamento de condições de estresse, alimentação balanceada, repouso adequado e atividade física regular.
Klumb ressalta ainda que no LES não se pode falar exatamente em cura, mas em controle. “Existem inúmeras pessoas com LES que ficam usando apenas cloroquina e medidas gerais com um bom controle da doença; no entanto a maioria das pessoas, necessitará um acompanhamento regular a cada três a seis meses com um reumatologista, para que, caso haja uma reativação dos sintomas, esses sejam controlados logo no início, permitindo que a pessoa rapidamente reequilibre o seu sistema imunológico e recupere sua saúde”.
Jornalista responsável: Maria Teresa Marques
Boa noite,tenho uma duvida tenho lúpus e tomo cloroquina,posso pegar o vírus igual? E eu tomando a cloroquina me ajuda a combater o vírus?
Olá Maria! Em caso de dúvidas, consulte seu reumatologista. Para mais informações sobre COVID-19, acesse: https://www.reumatologia.org.br/covid-19/