Autoria: Dr. José Roberto Provenza
15/05/2011
REUMATISMO
A Reumatologia, que teve seu início na década de 50, congrega cerca de 1.700 especialistas distribuídos em diversos estados do país, com a sua maior concentração na região sul e sudeste. Esta especialidade, cursada por um período de quatro anos, tem com o objetivo principal desenvolver o conhecimento profundo clínico sobre todas as enfermidades que afetam o aparelho osteo-articular, tanto nas estruturas citadas anteriormente como também músculos, tendões, ligamentos e todas as estruturas que compõe o movimento. Para o entendimento de mais de uma centena destas enfermidades, o reumatologista necessita ter conhecimento clínico das diversas outras áreas que se relacionam, como por exemplo, a dermatologia (lesões avermelhadas na pele com a exposição solar no lúpus eritematoso sistêmico-LES, manchas de cor vinhosa ao redor dos olhos, dorso das mãos, cotovelos e joelhos na dermatomiosite, nódulos avermelhados e doloridos na pele no eritema nodoso no mal de Hansen , lesões puntiformes e muito doloridas nas polpas digitais nas diversas formas de vasculites, e diversas outras enfermidades); neurologia (alteração de comportamento, cefaléia, meningite, convulsão e acidente vascular cerebral-AVC, no LES,nas vasculites); psiquiatria (alteração cognitivo comportamental presente principalmente na fibromialgia, depressão comum nos pacientes com dores crônicas); oftalmológica (inflamações como conjuntivite, até quadros graves de uveíte com possibilidade de cegueira nas espondiloartrites); cardiologia e pneumologia (hipertensão arterial, insuficiência cardíaca, infarto do miocárdio, pneumonia, fibrose pulmonar e hipertensão pulmonar nas diversas doenças do tecido conjuntivo), nefrologia (insuficiência renal tanto nas doenças do tecido conjuntivo como LES, como em doenças mais comuns como a gota) e principalmente com a ortopedia, onde a reumatologia tem a sua maior interface, principalmente nas enfermidades como a artrose, tendinite, bursite, lombalgia, e as correções cirúrgicas como a colocação das próteses principalmente em pacientes com artrose e artrite reumatóide. Certamente o conhecimento de diversas outras especialidades, tem grande importância na formação do reumatologista.
Para facilitar o entendimento das diversas doenças que afetam o aparelho oateoarticular, podemos dividir em REUMATISMO DEGENERATIVO, REUMATISMO INFLAMATÓRIO E REUMATISMO DE PARTES MOLES.
Temos a artrose ou osteoartrite, como exemplo clássico do REUMATISMO DEGENERATIVO, que se caracteriza por um processo destrutivo progressivo da cartilagem articular, envolvendo principalmente as articulações que suportam carga, exceto para as mãos nas articulações interfalangeanas proximais e distais, onde a dor e a rigidez são as queixas mais freqüentes, principalmente pela manhã ao iniciar os movimentos, mas com poucos minutos de duração. Ao longo do tempo, podemos observar formação de nódulos de consistência dura nestas articulações, como também deformidades e limitações dos movimentos em outras articulações, podendo evoluir para incapacidade no caso de um diagnóstico tardio ou incorreto. A faixa etária mais comum encontra-se a partir da quinta década de vida, podendo antecipar nos mais jovens em caso de deformidades, trauma e infecções. Secundariamente, as estruturas ósseas, ligamentares e musculares, podem ser também afetadas, somando neste caso dores de origem articular e periarticular. Por vezes, a coluna vertebral cervical, dorsal e lombar podem ser também afetadas, nem sempre com manifestações de dor, mas, dependendo do grau de comprometimento, podemos observar desde uma dor leve com pouca restrição dos movimentos, até dores de forte intensidade localizada ou irradiada para os membros inferiores ou superiores. A imagem radiológica observada nesta enfermidade chama-se osteófito, popularmente denominado de “bico de papagaio”. Os exames laboratoriais para o diagnóstico da artrose são normais.
São várias as doenças que compõe o grupo dos REUMATISMOS INFLAMATÓRIOS. São enfermidades que agridem a membrana sinovial, estrutura interna das articulações, que tem por função manter a defesa e a integridade do ambiente intra-articular e responsável também pela produção do líquido sinovial, importante na nutrição da cartilagem e facilitador dos movimentos. Este processo de agressão pode ser agudo, como exemplo o trauma local, as doenças metabólicas com deposição de cristais (gota, pseudogota e outros cristais), as doenças infecciosas como as causadas por vírus, bactérias ou fungos (artrite séptica ou infecciosa), as doenças difusas do tecido conjuntivo, conhecidas como as doenças auto-imunes, grupo extremamente importante pela morbidade e mortalidade (LES, esclerodermia, dermatomiosite, vasculites, síndrome de Sjogren, doença mista do tecido conjuntivo e principalmente, pela maior freqüência, a artrite reumatóide e as espondiloartrites). Todas estas doenças, diferente da artrose, podem afetar outros órgãos ou sistemas, tornando-se de maior gravidade e pior prognóstico. A artrite reumatóide tem uma agressão articular maior que as demais, evoluindo para deformidades importantes das mãos, punhos, joelhos, tornozelos e pés. Pela manhã, a dor e a rigidez são intensas e duradouras, podendo perdurar por horas. As espondiloartrites, tem como sintomas mais freqüentes a dor lombar que não melhora com o repouso e presença de freqüentes tendinites. Nesta última década, os avanços no tratamento medicamentoso das doenças difusas do tecido conjuntivo foram enormes, oferecendo uma melhor qualidade de vida e prognóstico.
Dentro dos principais REUMATISMOS DE PARTES MOLES, citamos a tendinite, bursite, dor miofascial e fibromialgia. São as manifestações mais freqüentes na reumatologia juntamente com a artrose. Podemos chamá-los também de reumatismo extra-articular, exatamente pelo fato de acometer as estruturas ao redor das articulações, não acometendo as estruturas internas da articulação. São múltiplos tendões e bursas, situados ao redor de todas as articulações. As causas mais freqüentes são os traumas e sobrecargas nestas estruturas, como também outras doenças sistêmicas como diabetes, gota, entre outras. Pode ser aguda ou crônica, na dependência do fator agressor. As dores miofascial e a fibromilagia por vezes se confundem, separadas principalmente por dor regional muscular na primeira e dor difusa por todo corpo na fibromialgia. Esta última de difícil diagnóstico, tendo em conta seus sintomas semelhantes a diversas outras enfermidades, necessitando muita atenção e conhecimento no diagnóstico diferencial. Normalmente os exames complementares são normais, frustrando o paciente pela falta de confirmação através destes.
Diversas outras manifestações articulares e periarticulares podemos encontrar, como manifestação de outras enfermidades em outras especialidades, mas em menor freqüência que as apresentadas acima.
Dr. José Roberto Provenza
Última atualização (15/05/2011)