Os veículos de comunicação noticiaram, na semana passada, a ausência da famosa tenista Venus Williams no Aberto de Tênis dos EUA, em decorrência da síndrome de Sjögren. Em julho deste ano, Venus anunciou que sofria dessa enfermidade pouco conhecida, que tem caráter autoimune, ou seja, quando o sistema imunológico ataca o próprio corpo, e afeta mais as mulheres adultas, na ordem de 1% a 3% do grupo, embora possa também acometer, mais raramente, homens e adolescentes. O coordenador da Comissão de Vasculopatias da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), o reumatologista Roger A. Levy, explica que a doença é do tipo autoimune sistêmica, em que o organismo produz anticorpos contra as estruturas das glândulas salivares e lacrimais, assim como de outros órgãos. Foi descrita por um oftalmologista sueco chamado Sjögren, em 1933, que notou que os pacientes com artrite reumatoide, mal que causa inflamação nas articulações, tinham os olhos ressecados. “Entretanto, hoje em dia se sabe que a síndrome pode ocorrer em pessoas sem diagnóstico de artrite reumatoide ou de outra doença autoimuneconhecida, sendo, portanto, uma entidade clínica isolada”, ressalta Levy. Os pacientes com essa enfermidade apresentam ressecamento tanto dos olhos, com sensação de areia ou corpo estranho, quanto da boca, com queixa de pouca ou nenhuma saliva, que acarreta cáries em excesso, gengivite, candidíase recorrente e outras alterações, além de cansaço e dores articulares. “A pele e outras mucosas também podem ficar ressecadas, mas raramente os pulmões e os rins são acometidos”, assinala o médico. Para a confirmação do diagnóstico, além de todos os sintomas já mencionados, deve haver alterações em testes laboratoriais de sangue, em exames anatomopatológicos, como biópsia das glândulas salivares menores, feita no lábio, e em métodos de imagem, como cintilografia ou ultrassom das glândulas parótidas. Tratamento A síndrome de Sjögren não tem cura, mas apenas controle, diz Levy, que é feito com o tratamento adequado, sob a coordenação de um reumatologista. Isso inclui cuidados gerais, mudança ou adaptação dos hábitos, como evitar fumo e álcool e manter uma alimentação saudável para prevenir complicações, e uso de medicamentos. “Entre as medidas gerais, é importante promover uma higiene oral e ocular impecável, mascar chicletes sem açúcar, substitutos de saliva, ingerir bastante água e, para os olhos, usar lágrimas artificiais, de preferência sem conservantes”, enumera o médico. Quanto aos medicamentos, a hidroxicloroquina é a base do tratamento, com sua ação imunomoduladora, mas, de acordo com o coordenador da Comissão de Vasculopatias da SBR, existe a possibilidade de indicar vários outros anti-inflamatórios e imunossupressores, que atuam contra a rejeição no sistema imune, conforme cada caso. O ômega-3 em forma de suplemento pode também ter um papel benéfico, segundo Levy. E mais: “Novos alvos terapêuticos que já estão sendo utilizados para tratar o lúpus e outras doenças autoimunes sistêmicas encontram-se em teste para os casos mais difíceis de controlar na síndrome de Sjögren”, revela o reumatologista.
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