Autoria: Dra Rita Furtado
25/04/2011
As infiltrações intra-articulares são procedimentos utilizados na reumatologia desde a metade do século passado e são instrumentos terapêuticos de grande valia para o médico reumatologista.
Tratam-se de intervenções através das quais são introduzidas medicações de ação antiinflamatória dentro do espaço intra-articular através de uma injeção. Têm como maiores indicações quadros de artrite de difícil resposta à medicação oral (artrite refratária) principalmente se em poucas articulações.
As artropatias inflamatórias crônicas, dentre elas e principalmente a artrite reumatóide, são enfermidades que se não combatidas precocemente podem provocar lesão de todos os componentes articulares, inclusive do osso, o que pode promover além de dor, deformidades. Essas deformidades, por sua vez, irão contribuir para o prejuizo funcional do paciente.
O tratamento atual das artropatias inflamatórias baseia-se em estratégias múltiplas e agressivas na tentativa de evitar essas deformidades e conseqüentemente a incapacidade funcional que elas podem promover.
As infiltrações intra-articulares fazem parte do arsenal do qual o reumatologista dispõe para otimizar esse tipo de abordagem terapêutica. O efeito desejado é diminuir a espessura da membrana sinovial, membrana esta que reveste a grande maioria das articulações e que se encontra inflamada e aumentada de volume em pacientes portadores de artrite de qualquer natureza. Essa membrana sinovial inflamada, que na artrite reumatóide se chama pannus, é extrememente agressiva podendo invadir e destruir as estruturas articulares.
Várias são as medicações utilizadas nas infiltrações intra-articulares como corticosteróides, ácido hialurônico e radioisótopos, sendo esses últimos pouco utilizados no Brasil pelo alto custo e pelas dificuldades de importação. Os derivados do ácido hialurônico têm o seu uso indicado em articulações com artrose (osteoartrite), tendo efeito analgésico e antiinflamatório local.
De todas as medicações, os corticosteróides são as drogas mais utilizadas desde o surgimento dessa intervenção. São drogas com alta potência antiinflamatória que atuam na articulação inflamada promovendo diminuição da concentração de células inflamatórias da membrana sinovial acometida e de seus produtos lesivos.
Existem sob a forma de vários produtos, mas já há comprovação de que os corticosteróides sintetizados sob a forma de microcristais, portanto menos solúveis, são os mais efetivos para serem utilizados no ambiente intra-articular, como por exemplo o hexacetonide de triancinolona. Este último é o corticosteróide mais indicado para ser utilizado na infiltração intra-articular já que é o que comprovadamente permanece durante mais tempo dentro da articulação e tem a maior potência para agir sobre a membrana sinovial inflamada. Outros corticosteróides podem ser utilizados neste procedimento mas a sua baixa potência e pequena duração de ação podem determinar um efeito insatisfatório.
A realização de uma infiltração intra-articular deve ser seguida de repouso articular por no mínimo 48h após o procedimento na tentativa de retardar a saída da medicação do ambiente intra-articular e assim aumentar o seu efeito local.
Vários são os trabalhos que demonstram a efetividade do procedimento de infiltração intra-articular em tempos que variam de 90 dias a mais de um ano, dependendo da medicação utilizada, articulação infiltrada e tempo de repouso articular após infiltração.
Algumas são as contra-indicações à realização das infiltrações intra-articulares, como infecção na articulação a ser infiltrada, distúrbios graves de coagulação e uso de prótese na articulação em questão. O mal uso dessa intervenção quanto à indicação, habilitação técnica para realizá-la, número de sessões e escolha de medicação a ser utilizada, assim como em qualquer outro tratamento, podem causar resultados insatisfatórios.
Na imensa maioria das vezes a infiltração intra-articular pode ser realizada às cegas, ou seja, dispensando aparelhos que guiem o médico na busca do espaço intra-articular e quase todas as articulações podem ser submetidas a esse tratamento. No entanto, artrites crônicas em articulações como quadril, ombro, articulações interapofisárias (articulações posteriores da coluna vertebral), de médio pé entre outras, devem ser abordadas preferencialmente com auxílio de aparelhos de imagem.
Os aparelhos que mais habitualmente auxiliam o reumatologista a realizar essas infiltrações mais profundas são a radioscopia e a ultrassonografia. O reumatologista pode estar apto a manusear esses aparelhos para obter sucesso nas infiltrações intra-articulares dessas articulações. Esses métodos possibilitam a abordagem de articulações inflamadas de difícil acesso para possibilitar a melhora da inflamação local, prevenindo ou retardando o dano articular e muitas vezes evitando cirurgia.
Apesar do uso muito antigo das infiltrações intra-articulares ainda existem muitas dúvidas de parte dos pacientes portadores de artrite quanto a sua eficácia, efeitos colaterais, técnicas de abordagem e medicações a serem usadas. O reumatologista é o especialista que está familiarizado com esse procedimento desde a sua introdução no meio médico e aquele que lida com articulações com artrite diariamente. Portanto, é o especialista mais indicado para responder às dúvidas dos pacientes com artrite a este respeito e para realizar este procedimento.
A desmistificação das infiltrações intra-articulares pelos pacientes e a habilidade técnica do médico para realizá-la são instrumentos valiosos no combate à lesão articular e conseqüentemente à incapacidade dos pacientes reumáticos.
Dra Rita Furtado
Reumatologista e Fisiatra
Assistente-Doutora da Disciplina de Reumatologia da UNIFESP- Escola Paulista de Medicina
Última atualização (25/04/2011)