09/08/2011
“Osteoartrose” é uma doença sempre presente nas dúvidas do leigo e em inúmeras perícias médicas e processos judiciais. Certos materiais pouco informativos apresentam essa doença como nociva, ruim e perigosa, deixando uma imagem de algo assustador e inevitável, o que não é verdade. A menção de “osteoartrose” nos processos judiciais confunde leigos e não especialistas e, se mal compreendida, pode levar a entendimentos equivocados. Pouco ou nada se lê na mídia leiga sobre o tratamento dessa doença e como amenizar suas conseqüências. Esclarecer esses fatos é um dos objetivos deste artigo.
Primeiramente, o termo “osteoartrose”, apesar de popular, está atualmente em desuso. O termo correto, que será usado neste artigo, é osteoartrite (OA).
A forma mais comum de artrite é a osteoartrite (OA). Não se trata meramente de um “desgaste nas juntas”, mas de um complexo conjunto de modificações bioquímicas, mecânicas e funcionais, que podem ou não resultar em sintomas.
Ter uma radiografia mostrando OA não é garantia que a dor seja proveniente desta doença. Em outras palavras, um Raio-X que revela OA não demonstra se a dor vem daquela articulação radiografada ou não.
A dor em uma articulação pode ter muitas origens, com ou sem OA. Cerca de metade dos adultos com dor no joelho tem OA no Raio-X e, mesmo quando a OA está presente, ela pode não ser a principal causa da dor. O leigo se confunde com isso, mas, de posse desta informação, é possível compreender que o Raio-X não é o “fim da linha”. Um especialista deve ser procurado para esclarecer a origem da dor e seu tratamento.
Uma de muitas razões que fundamenta a importância do médico perito de estudar as doenças musculoesqueléticas é de ter o discernimento técnico capaz de identificar a origem da dor do periciando; saber se ela é proveniente ou não da OA; identificar qual a doença subjacente que realmente é a causa da dor ou da incapacidade do indivíduo. A Reumatologia é uma das especialidades que se aprofunda nesses conhecimentos.
O sedentarismo pode levar à rigidez e falta de lubrificação e de flexibilidade do joelho, causando dores similares às da OA. A fibromialgia, a ansiedade crônica, a depressão e outras doenças também podem levar a dores musculoesqueléticas que imitam aquelas da OA. Muitos diagnósticos como esses devem ser considerados ou excluídos, antes de se concluir a respeito da origem da dor, mesmo diante de um Raio-X mostrando OA.
Além de o sedentarismo ser causa de dores que imitam aquelas da OA, ele também piora outras dores que se assemelham às da OA, causadas por outras doenças como as já mencionadas. Entender e tratar a OA, portanto, exige compreender os malefícios do sedentarismo e como tratá-los.
O sedentarismo (ou inatividade física) está intimamente ligado à OA, na medida em que ele pode ser causa e conseqüência desse. Um indivíduo com OA não tratada pode se tornar mais sedentário. Por sua vez, o sedentarismo está associado com piora da fraqueza do quadríceps, que se torna um fator de risco para o agravamento da OA. Um alimenta o outro.
O sedentarismo também contribui ou está associado ao diabetes mellitus, obesidade, insuficiência cardíaca congestiva, infarto do miocárdio, derrame cerebral, osteoporose, ansiedade, à depressão, piora de dores crônicas e da fibromialgia, entre outros problemas.
A atividade física leve a moderada, tal como a caminhada, possui propriedades preventivas e terapêuticas capazes de combater o sedentarismo e todas aquelas doenças e sintomas a ele relacionados, incluindo aqueles provenientes da OA. Mesmo quando excluídas outras causas de dor e restando somente a OA como causa inquestionável dessa, a atividade física ainda é benéfica e tem propriedades terapêuticas capazes de melhorar o indivíduo e restabelecer ou ampliar várias de suas capacidades.
Atividades físicas, como a caminhada, podem ainda melhorar o equilíbrio, principalmente de idosos, melhorando sua independência e socialização. Podem ainda reduzir o consumo e o gasto com medicamentos. A redução de medicamentos para hipertensão arterial e diabetes chega a 34%, podendo haver redução ainda maior no uso de antiinflamatórios e analgésicos usados para dores crônicas. A redução do uso de antiinflamatórios para OA ou qualquer outra fonte de dor é fundamental para a redução do risco de gastrite, esofagite, duodenite, insuficiência renal, hepatite e outros efeitos colaterais desses medicamentos.
Programas supervisionados de fortalecimento muscular ou de exercícios aeróbicos como a caminhada são capazes de reduzir a dor e aumentar a mobilidade de pacientes com OA.
Conforme informações da GLOBALPA (Global Advocacy for Physical Activity), a atividade física já é reconhecida como um determinante da saúde mental, social, ambiental e financeira.
Mental: porque a caminhada melhora as funções cognitivas, deixando o indivíduo mentalmente mais ativo.
Social: porque a caminhada pode fazer amigos; pode permitir a um idoso ir a um supermercado, à igreja, visitar seus parentes e conhecidos.
Ambiental: porque indo à pé, e não de carro, há economia de gasolina, menos poluição, menos gastos, menos “efeito estufa”.
Financeira: porque diminui a necessidade do uso de medicamentos para combater a dor e para controlar o açúcar no sangue e a pressão arterial.
A crença de que a caminhada e os exercícios físicos são proibidos para pacientes portadores de OA é um falso mito. Há evidências científicas de que a caminhada e exercícios leves a moderados não pioram o processo patológico da OA, não pioram a dor nem a progressão da doença. Pelo contrário, a atividade física é efetiva em reduzir a dor provocada pela OA e por várias outras doenças, tais como a fibromialgia, bem como melhorar a função articular e muscular, reabilitando o indivíduo. Até mesmo indivíduos com artrite reumatóide podem se beneficiar com esse tipo de tratamento.
A OA não é uma contra-indicação ao exercício físico. Algumas contra-indicações ao exercício físico são doenças como infarto do miocárdio agudo, insuficiência cardíaca aguda, angina instável, arritmias incontroláveis ou perigosas, entre algumas outras.
O exercício físico pode ser prescrito pelo médico como qualquer outro medicamento. O início deve ser lento e gradual. Um idoso com OA, por exemplo, pode levar entre 2 a 3 meses para se adaptar. O objetivo é adquirir um condicionamento aeróbio no organismo, o qual vai levar à adaptação e todas as melhorias acima listadas. O condicionamento pode ser obtido ajustando-se a intensidade, o volume e a freqüência do exercício, de acordo com o indivíduo. Em geral, os pacientes podem começar com uma caminhada lenta e de curta duração. O aumento da velocidade, do tempo e da freqüência da caminhada deve ser gradual. A mudança desses parâmetros em pacientes portadores de outras doenças em geral é feito por meio de cálculos baseados na freqüência cardíaca ou em outras avaliações simples. A maioria das pesquisas nessa área não recomenda como obrigatórios testes mais caros, tais como o teste de esforço (teste da esteira) ou outros, exceto se sob recomendação explícita do médico. A maioria dos benefícios pode ser obtida com 3 a 5 dias por semana. Pacientes com dores crônicas eventualmente podem se beneficiar com uma freqüência maior.
Sinais que podem alertar que uma determinada quantidade de atividade física é excessiva e, consequentemente, reduzida são: dor articular durante a atividade, dor que dura mais de 2 horas após o exercício ou inflamação articular (inchaço).
Além da caminhada e exercícios aeróbios, diferentes modalidades de atividade física podem ser prescritas pelo médico para fins de tratamento da OA ou de sintomas provenientes de outras doenças. Exercícios de fortalecimento também são benéficos, desde que precedidos por períodos de aquecimento e combinados com alongamentos adequados. O aquecimento correto pode evitar lesões. Alguns alongamentos têm muita importância, principalmente em indivíduos muito sedentários, melhorando sua mobilidade e a extensão de movimentos. Calor e frio podem ser adjuvantes nessas terapias. Algumas dores crônicas se beneficiam com calor local. Inflamações e traumas agudos se beneficiam com a aplicação de gelo. Nunca aplique calor em uma junta inflamada, exceto se sob orientação do médico. Nunca aplique gelo em áreas de pele sem sensibilidade ou com a circulação comprometida.
Alguns pacientes com OA muito avançada ou com incapacidade de iniciar programas leves de caminhada podem se beneficiar com exercícios isométricos ou outros orientados por médico, fisioterapeuta ou profissional habilitado. Em casos mais avançados, a prescrição correta de uma bengala ou andador pode ser feita.
O tratamento da OA, além da atividade física, deve incluir orientações de proteção articular, que podem ser obtidas com o seu Reumatologista, bem como redução da obesidade. A perda de peso nos pacientes com sobrepeso ou obesos é capaz de reduzir a dor associada à OA e a progressão desta doença.
Seja você mais um adepto da atividade física e um divulgador de seus benefícios para familiares, amigos e sua comunidade!
Última atualização (09/08/2011)