09/08/2011
1) LER é uma doença?
LER não corresponde a uma doença ou uma enfermidade. LER é a sigla de Lesões por Esforços Repetitivos e, na realidade, representa um grupo de afecções do sistema musculoesquelético (tendão, nervo, músculo, ligamento, osso, articulação, disco intervertebral, entre outras estruturas) que são decorrentes de sobrecargas mecânicas.
Importante destacar que condições sociais, econômicas e culturais estão estreitamente ligadas à gênese das dores crônicas, em especial dos membros superiores.
São diversas afecções que apresentam manifestações clínicas distintas e que variam em intensidade.
No Brasil, o termo LER tem sido empregado para designar distúrbios musculoesqueléticos provenientes de sobrecargas no ambiente de trabalho. Portanto, problemas osteomusculares com atletas, músicos ou dançarinos, não são enquadrados neste contexto, como deveria.
2) Porque o termo DORT?
O termo DORT provém de Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho e foi introduzido para substituir o termo LER, basicamente por duas razões: porque a maioria dos trabalhadores com sintomas no sistema musculoesquelético não apresenta evidência de lesão em quaisquer estruturas; e a outra razão é que além do esforço repetitivo (sobrecarga dinâmica), outros tipos de sobrecargas no trabalho podem ser nocivas para o trabalhador como, por exemplo, sobrecarga estática (ou seja, o uso de contração muscular por períodos prolongados para manutenção de postura), excesso de força empregada para execução de tarefas ou trabalhos executados com posturas inadequadas. Assim sendo, o termo DORT é mais adequado, pois abrange todos os sintomas e todas as espécies de sobrecargas biomecânicas dentro de um determinado cenário ocupacional.
Devemos ter cautela ao interpretar o termo, pois não há evidências científicas que embasem o significado técnico de DORT, o qual exclui toda a complexidade das muitas doenças que representa, além de incluir doenças cujo trabalho nem sequer é a principal causa.
O termo DORT não é rigorosamente científico, apenas substituiu o termo LER num período em que esse tema ainda não contava com discussões científicas aprofundadas. O termo tem sido questionado por evidências científicas que, igualmente, questionam o termo LER.
3) Quais são os distúrbios mais comuns?
Os distúrbios osteomusculares ocupacionais mais encontrados têm sido: as tendinites (particularmente do ombro, cotovelo e punho), as lombalgias (dores na região lombar) e, mais freqüentemente, as mialgias (dores musculares) em diversos locais do corpo.
4) Como se adquire um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho?
Quando existe predisposição constitucional somada ao desrespeito a um ou mais dos seguintes fatores organizacionais no ambiente de trabalho:
. Treinamento e condicionamento
. Local de trabalho (piso, superfícies, barulho, umidade, ventilação, temperatura, iluminação, distanciamentos, angulações, etc)
. Ferramentas, utensílios, acessórios e mobiliários adequados
. Jornadas de trabalho
. Intervalos apropriados
. Posturas apropriadas
. Técnicas para a execução de tarefas
. Respeito aos limites biomecânicos (força, repetitividade, manutenção de posturas específicas por períodos prolongados).
Não há comprovação, entretanto, de que a maior parte das medidas ergonômicas reduza os litígios trabalhistas ou mesmo a incidência de doenças.
Um ambiente de trabalho organizado aumenta o conforto do trabalhador, melhora o ambiente de trabalho, pode reduzir faltas ao trabalho e, talvez, possa reduzir a incidência de algumas doenças.
Convém ressaltar que existem predisposições individuais, que aumentam a possibilidade de um trabalhador desenvolver um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho. Diversas variações congênitas do aparelho locomotor, enfermidades associadas, estresse, distúrbios psicológicos, sedentarismo, estilo de vida, atividades esportivas ou outras atividades paralelas, entre outros fatores, podem todos contribuir para o aparecimento desses distúrbios.
5) Quais são os trabalhadores mais vulneráveis?
Qualquer tipo de trabalho, quando mal executado ou quando não respeita os limites biomecânicos dos indivíduos, pode contribuir para o surgimento de um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho.
6) O trabalhador com dor ou outro sintoma é portador de LER ou DORT?
Não, necessariamente. Sintomas como dor, dormência, formigamento, sensação de pontadas ou agulhadas, diminuição da força, sensação de peso ou cansaço nos membros, inchaço, dificuldade de movimentação, desconforto, entre outros sintomas, podem ser decorrentes de diversas condições não relacionadas as sobrecargas biomecânicas no ambiente de trabalho. Muitos distúrbios reumáticos, imunológicos, hormonais, metabólicos, infecciosos, ou até mesmo diversos tipos de traumas não ocupacionais, podem todos ser responsáveis por sintomas que simulam um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho.
Portanto, torna-se imperativo procurar um médico para a realização de um diagnóstico preciso e de uma adequada estratégia terapêutica.
7) Esses distúrbios são incapacitantes?
É muito importante desmistificar o prognóstico dessas enfermidades, que possuem evolução satisfatória. Na realidade, a maioria evolui para a cura. Ao contrário do que alguns declaram, todos esses distúrbios têm tratamento e, felizmente, os casos mais graves ou que não respondem ao tratamento clínico, podem ser beneficiados por procedimentos cirúrgicos e/ou reabilitação específica.
8) Como é o tratamento de um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho?
O tratamento depende, sempre, da correção dos fatores de riscos dentro do ambiente de trabalho e de se instituir um plano terapêutico adequado. Diversas são as modalidades terapêuticas: medicamentos, fisioterapia (eletroterapia e cinesioterapia), infiltrações, órteses (acessórios para fins terapêuticos, tais como talas, protetores, cintas, coletes, etc.) e reabilitação. Orientações e aspectos educacionais também fazem parte do tratamento. Importante frisar o papel do exercício físico aeróbico regular.
9) O estresse psicológico influencia os sintomas?
Sim. Qualquer forma de estresse psicológico pode influenciar diretamente na percepção da dor ou de outros sintomas. A ansiedade, a depressão e outros distúrbios psicológicos, podem também gerar ou agravar a tensão muscular (a qual gera contração e dor no músculo). Em muitos casos, o componente emocional pode ser o principal responsável pela perpetuação da sintomatologia.
A boa relação médico-paciente, a satisfação com a vida, a motivação pelo trabalho e as convicções do indivíduo, são fatores essenciais para o sucesso terapêutico.
10) Como prevenir um distúrbio osteomuscular relacionado ao trabalho?
Criando e um bom ambiente de trabalho e respeitando e os limites de cada indivíduo. A prevenção deve ser iniciada com a seleção adequada dos trabalhadores, aprendizagem de técnicas, condicionamento e ensinamento de posturas apropriadas. A duração das jornadas de trabalho deve ser respeitada, assim como a presença de intervalos periódicos de trabalho. Todos os instrumentos, ferramentas, acessórios, mobiliários e postos de trabalho devem ser convenientes, como também as posições, distâncias e angulações envolvidas.
Tudo isso somado a um adequado estilo de vida, com boa qualidade do sono, condicionamento físico e manutenção da saúde geral, proporcionará a qualquer trabalhador condições de executar suas tarefas laborativas com os mínimos riscos de desenvolver um distúrbio no sistema musculoesquelético.
Última atualização (09/08/2011)