23/05/2011
Quando pensamos em “reumatismo” logo vem a nossa mente uma doença que atinge as articulações. Bem, as articulações não são as únicas estruturas que podem ser acometidas. Tanto que o termo mais correto para nos referirmos aos “reumatismos” seria doença reumática, uma vez que esse termo engloba as doenças articulares e também diversas doenças que atingem outros órgãos ou tecidos do corpo.
Um grupo muito importante de doenças reumáticas é o grupo das vasculites, ou seja, doenças que se manifestam quando há uma inflamação nas camadas da parede dos vasos sanguíneos arteriais. Elas se dividem em vasculites que atingem pequenos vasos, médios vasos ou grandes vasos, de acordo com o calibre das artérias acometidas. Quando um vaso está inflamado sua parede pode ficar muito espessada por causa das células que lá se encontram e, assim, a área reservada à passagem do sangue fica reduzida. Por vezes, essa redução é tão importante que uma grave conseqüência consiste na obstrução à passagem do sangue e, portanto, todo o transporte de oxigênio e nutrientes para os tecidos adiante fica comprometida.
Uma dessas vasculites se chama Arterite de Células Gigantes. Ela não é comum, mas muito importante pelo fato de se tratar de uma doença séria, devido à possibilidade de acometer a visão, levando à cegueira. As alterações se localizam em artérias médias e grandes, como a aorta e seus ramos, atinge pessoas mais idosas, sendo rara antes dos 50 anos de idade, e prefere o sexo feminino (as mulheres têm 2,5 vezes mais chances de ter a doença do que os homens).
Não se sabe exatamente como ela ocorre, mas existem dados que sugerem que determinadas infecções bacterianas e virais podem causar um desequilíbrio no sistema imunológico e as células ativadas e proteínas produzidas em resposta a esses agentes passariam a agredir a parede dos vasos arteriais, levando ao aparecimento da doença. Isso não quer dizer que, pelo fato de termos infecções, iremos desenvolver a doença. É preciso carregar informações genéticas para que tudo isso aconteça, e todo indivíduo é único em relação a sua constituição genética.
Em relação às manifestações, os pacientes com arterite de células gigantes apresentam, em 60% dos casos, dor de cabeça na região das têmporas, onde localizam-se as artérias temporais (uma de cada lado, logo acima e lateralmente aos olhos). Tal manifestação é tão freqüente que essa doença também é chamada de Arterite Temporal. A dor é intensa e as artérias podem ser facilmente palpadas e estão dolorosas ao toque. A dor de cabeça também pode aparecer na nuca. Os pacientes podem se queixar de dor para mastigar alimentos ou para falar, decorrente da falta de oxigênio nos músculos da mandíbula – chamada “claudicação da mandíbula”.
Além disso, a mais temida manifestação é a perda repentina e indolor da visão por dificuldade na chegada de sangue ao nervo óptico (nervo do olho). A falta de oxigenação para o nervo óptico pode ser definitiva e a cegueira, irreversível. Sintomas, como falhas da visão que melhoram sem tratamento e visão dupla, servem de alerta, pois podem acontecer antes da perda total da visão. Pacientes devem ser orientados a procurar atendimento médico imediato ou mesmo o pronto-socorro caso apresentem sintomas relacionados à alteração da visão.
Para o diagnóstico, o médico faz um raciocínio com as queixas do paciente, os achados do exame físico e podem estar presentes alterações em exames de laboratório. Muitas vezes é necessário fazer uma biópsia, ou seja, retirar um pedaço da artéria da têmpora para confirmar que existe inflamação na parede da artéria, o que somente é possível com a observação microscópica do fragmento do vaso.
Em metade dos pacientes com Arterite de Células Gigantes pode-se ter dor, sensação de peso e rigidez nas regiões cervical, ombros e quadris, quadro chamado de Polimialgia Reumática. Podem estar presentes ainda falta de apetite, emagrecimento e dor nas articulações.
O tratamento é feito com medicamentos que suprimem a inflamação e incluem drogas como os glicocorticóides. O acompanhamento rigoroso é necessário para o manejo dessas medicações e avaliação da resposta ao tratamento.