Autoria: Comissão de Imagens
18/04/2011
O uso de radiografias teve início na prática médica em 1895 após a descoberta dos raios X por Wilhelm Conrad Roentgen. Trabalhando com ampola a vácuo, ele descobriu raios que atravessavam vidro e papel e que não eram a luz. Ele os chamou de “raios X”. Roentgen radiografou a mão de sua esposa e verificou que os raios X atravessavam corpos humanos. Naquele final de século, essa descoberta gerou temores de feitiçaria. No entanto, a descoberta dos raios X foi rapidamente reconhecida pela ciência.
Os raios X são radiações eletromagnéticas. Na medida em que atravessam diferentes partes do corpo, sua intensidade sofre atenuação. Quanto mais densa a parte estudada, maior a atenuação. Assim, os ossos, que são partes duras do corpo, atenuam uma grande quantidade de raios X e aparecem mais brancos nos filmes de radiografias. Partes moles, como, gordura, músculos, e vísceras, atenuam poucos raios X e aparecem opacas nas radiografias. Uma radiografia é produzida ao se revelar um filme fotográfico que foi colocado abaixo de uma parte do corpo antes do disparo dos raios X pela ampola. No Brasil, as radiografias foram popularmente chamadas de “chapas”. A partir do uso das radiografias, outros métodos de imagem foram descobertos. As radiografias são chamadas de “simples” ou “convencionais” quando não usam recursos adicionais como o uso de contrastes.
Nas instalações de raios X podemos observar os componentes mínimos: Ampola, painel de controle e mesa para o paciente. A ampola é o tubo a vácuo de onde são disparados os raios X. As radiografias também podem ser realizadas no leito no caso de pacientes impossibilitados de locomoção ou mesmo durante cirurgias.
As radiografias são feitas por técnicos em radiologia. O técnico deve posicionar adequadamente o paciente na mesa de exames e controlar o disparo dos raios X. O tempo de disparo e a intensidade dos raios são determinados de acordo com as densidades das partes do corpo a serem estudadas. Raios em excesso podem gerar radiografias muito opacas. Raios menos intensos do que o indicado podem gerar radiografias muito brancas, dificultando a sua interpretação.
Como todos os métodos de imagem, as radiografias podem sofrer artefatos. Os artefatos são alterações nas características originais de um objeto ou parte do corpo a ser estudada. Os artefatos mais comuns nas radiografias são causados por interposição de objetos ou mau posicionamento do paciente durante a realização do exame.
Uma limitação das radiografias é que elas fornecem apenas imagens unidimensionais. Métodos mais modernos fornecem imagens em até quatro dimensões.
Os raios X não são totalmente inócuos. São radiação ionizante absorvida pelo corpo. A ionização frequente pode causar lesões nas células vivas. Gestantes no primeiro trimestre não podem receber raios X. A preocupação deve ser também com a dose cumulativa que o indivíduo sofre ao longo de todas as radiografias que realiza na vida. As radiografias devem ser realizadas apenas quando realmente necessárias. Não é incomum pacientes já chegarem a seus médicos solicitando pedidos de radiografias ou sairem insatisfeitos de suas consultas quando radiografias não foram solicitadas. Médicos e pacientes devem compreender a indicação precisa das radiografias.
As radiografias simples oferecem diversas vantagens. É o método de imagem mais barato. A tecnologia é simples e está amplamente disponível nos centros de saúde. O método não é dependente do examinador. O filme pode ser interpretado por médicos diferentes e em diferentes ocasiões. O tempo de realização é curto e diversas partes podem ser radiografadas em uma única ocasião. Em muitos casos as radiografias dispensam a necessidade de métodos diagnósticos mais caros e complexos. As radiografias também oferecem recursos como possibilidade de uso de meios de contraste para visualizar partes opacas.
Uma vez que as doenças reumáticas acometem com alta frequência os ossos, as radiografias simples são um método particularmente importante em reumatologia. Os ossos são muito bem visualizados nas radiografias. Por serem partes mais moles, ligamentos, tendões, músculos e o interior das articulações não são bem visualizados pelas radiografias. Por isso, não é possível afirmar com radiografias se o paciente está com tendinite ou bursite por exemplo. É possível, no entanto, saber se essas estruturas apresentam depósitos de cálcio (aparecem brancos), que pode ser indicativo de lesões.
Através de radiografias simples podemos visualizar contornos e os formatos de praticamente todos os ossos do corpo. Com essa observação podemos verificar também se há fraturas ou fissuras. Formatos anormais podem indicar doenças como acondroplasia, displasias ósseas, outras anormalidades congênitas dos ossos e o raquitismo. O comprimento mais longo do que o esperado em crianças pode indicar o gigantismo. As radiografias ósseas podem ainda avaliar idade óssea. Diversos tumores ósseos benignos e malignos aparecem nas radiografias simples.
Estudando radiografias podemos diagnosticar e entender varias doenças. A osteoporose causa perda de massa óssea e perda de cálcio nos ossos. Nas radiografias, podemos encontrar ossos muito opacos. Atualmente, o método de escolha para o diagnóstico da osteoporose é a densitometria óssea. As radiografias podem, no entanto visualizar a presença de fraturas, achatamento de vértebras e perda de altura. Algumas características dos ossos visualizadas nas radiografias também podem fornecer pistas sobre o tipo de osteoporose que o paciente apresenta (pós menopausa, senil ou causada por outras doenças).
Na artrose, entre as alterações estão a presença dos crescimentos nas bordas dos ossos popularmente conhecidas como “bicos de papagaio” e o aspecto mais branco nas margens das articulações. As radiografias servem para diagnosticar a doença, acompanhar o tratamento e ajudam na indicação de colocação de próteses metálicas nas articulações.
Doenças do metabolismo, causadas por excesso ou falta de alguns hormônios podem também gerar imagens nas radiografias. No hiperparatireoidismo, por exemplo, podemos encontrar aspecto granuloso nos ossos do crânio. A doença de Paget aparece nas radiografias como ossos aumentados de volume e com áreas de opacidade aumentada e brancas também desorganizadas no interior dos ossos acometidos.
Na gota, podemos observar nas radiografias simples áreas de erosões que são pequenas interrupções na superfície dos pequenos ossos com aspecto de “mordida de maça” mais tipicamente no primeiro dedo do pé. Nas crises agudas, principalmente nos primeiros anos da doença, as radiografias são normais. Não é necessário fazer radiografias para diagnosticar uma crise aguda da doença. A presença das erosões tipo “mordida de maça”, no entanto pode ajudar a estabelecer o diagnóstico da doença naqueles pacientes que se apresentam com história clínica sugestiva. As radiografias também fornecem informação sobre o dano cumulativo que a doença causou.
Na artrite reumatóide alterações típicas que permitem o diagnóstico da doença incluem erosões (descontinuidade ou aspecto de pequenas mordidas) nos pequenos ossos dos pés e das mãos, pequenos cistos nos ossos e maior opacidade ao redor das pequenas articulações das mãos e pés. Nas fases muito iniciais da doença, essas alterações também estão usualmente ausentes. Métodos mais modernos como ressonância nuclear magnética e ultrassonografia permitem encontrar mais precocemente essas alterações. No tratamento em longo prazo da artrite reumatóide, as radiografias são repetidas para acompanhar o surgimento ou não de novas alterações.
Nas espondiloartrites, algumas alterações nas radiografias também são tardias e podem ser encontradas mais precocemente na ultrassonografia ou ressonância nuclear magnética. Em alguns casos, as radiografias simples são suficientes. As alterações radiográficas das espondiloartrites incluem retificação das vértebras, acometimento da coluna sacra e calcificações ou esporões nas bordas das articulações.
De um modo geral, nas artrites causadas por inflamação (artrite reumatóide, gota, espondiloartrites), os métodos de imagem mais modernos não dispensam a realização de radiografias simples ao menos uma vez. A qualquer momento, as radiografias simples fornecem também a síntese global do quadro.
Mais de 100 anos após a descoberta dos raios X, as radiografias simples continuam sendo um método indispensável na avaliação de pacientes com queixas musculoesqueléticas. É necessário estar consciente das limitações, riscos e vantagens do método. A realização de radiografias apenas quando bem indicadas praticamente elimina os riscos das radiações ionizantes. A descoberta dos raios X e realização de radiografias foi uma etapa revolucionaria da medicina interna e o paço inicial da imagem como método diagnóstico.
Comissão de Imagem da Socidedade Brasileira de Reumatologia
Última atualização (18/04/2011)