Em reportagem publicada recentemente no Reumato Guia/BR, o coordenador da Comissão de Reumatologia Ocupacional da Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR), o reumatologista Milton Helfenstein Jr., falou sobre boas condições no ambiente de trabalho, em particular para quem sofre de alguma enfermidade reumática.
Tais condições precisam realmente ser adequadas porque, “se não desenvolvido com conforto, o trabalho pode atrapalhar e, inclusive, agravar a doença”, enfatiza o médico. Segundo Helfenstein, algumas dessas doenças têm histórico de ser incapacitantes, mas, mesmo assim, nem todas levam o indivíduo a abandonar sua ocupação. “Cada caso é um caso e quem deve avaliar é o reumatologista para, então. tomar a decisão em conjunto com o paciente”, salienta.
Quando há possibilidade de continuar a atividade profissional, várias orientações podem ajudar o paciente reumático, de acordo com Helfenstein, que estende aqui as dicas dadas ao Reumato Guia/BR.
Veja, portanto, os detalhes sobre as condições mais adequadas no trabalho para quem tem doenças reumáticas:
Área de trabalho e mobiliário – Devem ser planejados para respeitar as dimensões antropométricas de cada trabalhador. As posições de trabalho têm de ser reguláveis para que cada um possa se acomodar adequadamente. Às vezes, há necessidade de realização de adaptações específicas para um determinado indivíduo.
Máquinas e equipamentos – O desenho e a qualidade das máquinas, dos equipamentos, das ferramentas, dos instrumentos, enfim, de todos os utensílios de trabalho, devem ser bem apropriados, assim como sua manutenção.
Condições ambientais – Aspectos como temperatura, umidade, ventilação, presença e proximidade do condicionamento de ar, barulho e luminosidade devem ser todos avaliados. O barulho, por exemplo, pode distrair, interferir na comunicação, dificultar a concentração, causar deficiência auditiva e contribuir para a tensão. Para reduzi-lo, o caminho pode ser substituir um aparelho barulhento por um mais silencioso. A melhor distribuição de tais equipamentos e indivíduos no ambiente do trabalho também colabora para o bem-estar das pessoas.
Iluminação – Certas qualidades de iluminação podem afetar o desempenho e o conforto pessoal, além de ocasionar irritações oculares e cefaleia. Uma luminosidade apropriada deve ser aplicada para cada tipo de tarefa ou função, dependendo do grau de visão requerida. É necessário eliminar ou minimizar o brilho por meio do ajuste de posições, angulações, graduações, qualidade e quantidade de lâmpadas e uso de filtros ou telas, evitando ainda superfícies brilhantes.
Tarefas – As posturas, os movimentos e as forças empregadas nas tarefas têm de respeitar os limites biomecânicos. É preciso adequar o tempo de jornada de trabalho, assim como a quantidade e a duração dos intervalos. A rotatividade de tarefas deve ser uma opção, particularmente para aquelas que requerem movimentos repetitivos.
Repetições – A redução do número de repetições precisa ser tentada por meio de uma possível diminuição da velocidade de produção, limitando a carga horária e evitando horas extras, realizando mudanças na técnica aplicada, aumentando o número de operários destinados à função e utilizando auxílio mecânico e automatização, quando factível, com a presença de intervalos periódicos.
Carga – Se a força requisitada para um determinado trabalho é muito intensa, uma redução pode ser tentada com o uso de ferramentas ou acessórios viáveis, com a execução do trabalho sempre no sentido da gravidade, com o posicionamento adequado de coluna, tronco e membros, com o emprego de uma garra adequada, evitando pinçamento com as mãos, e com a eliminação de superfícies inadequadas (escorregadias, com pontas, etc.).
Posturas – Todos os materiais em frente ao trabalhador devem ser mantidos numa altura apropriada. Se necessário, convém usar cadeiras giratórias e com altura ajustável. É preciso evitar inclinações e rotações com a coluna, assim como posturas estáticas prolongadas. Durante o turno de trabalho, as posturas têm de ser frequentemente alternadas. O local de trabalho precisa permitir alternância entre o sentar-se e o manter-se em pé. Para amenizar a dor e o desconforto na região lombar e nas pernas, associado ao ortostatismo prolongado, deve-se considerar a possibilidade do uso de palmilhas, calcanheiras, meias elásticas ou outros suplementos. A utilização de uma pequena plataforma, de cerca de 10 cm a 12 cm de altura, na qual o trabalhador possa manter ciclicamente um dos pés num plano mais elevado, pode distribuir as forças na coluna vertebral, de maneira a reduzir a compressão nos discos intervertebrais e diminuir o desconforto na região lombar.
Posição sentada – Sentar-se é preferível quando grandes forças não são necessárias, quando se trata de tarefas de movimentos curtos e repetitivos e quando o equipamento e o material de trabalho estão facilmente ao alcance. Os pés devem ficar bem fixos no solo e, por conta disso, às vezes há necessidade de suporte próprio. Sentados, os trabalhadores consomem menos energia e têm mais estabilidade e menos estresse físico. Entretanto, permanecer nessa posição por longos períodos pode ser desconfortável e contribuir para a dor na região lombar e nos membros inferiores.
Cadeira – É essencial que a cadeira seja segura e ajustável para diferentes biótipos e diferentes tarefas. Para tanto, deve ser primeiramente considerada a altura em que vai ser realizada a tarefa e posteriormente respeitado o comprimento das pernas do indivíduo. Além de facilmente ajustável, uma cadeira precisa ter o encosto separado do assento, com ajustamentos independentes de altura e de inclinação. O assento deve ter dimensões suficientes para uma boa acomodação, com a borda frontal arqueada, com enchimento apropriado, e ser profundo o suficiente para descansar as costas. E, por fim, o encosto tem de ter curvas anatômicas e não limitar os movimentos dos braços e do tronco. Além de tudo isso, é importante que a cadeira seja revestida de tecido que permita boa transpiração.
Jornalista responsável: Maria Teresa Marques