20/04/2011
É importante que todos os pacientes com artrite reumatoide saibam que além de terem artrite reumatoide existe a possibilidade do aparecimento de outras doenças concomitantes, o que se chama comorbidades ou patologias associadas.
Em primeiro lugar devemos considerar que como artrite reumatoide é uma doença autoimune, outras doenças desencadeadas pelo mesmo mecanismo autoimune são mais frequentes nestes pacientes quando comparados com quem não tem a doença. Assim não é muito raro o paciente poder ter artrite reumatoide e tireoidite de Hashimoto,porexemplo.
Mais frequente que as doenças autoimunes, em pacientes com artrite reumatóide, são doenças que estão relacionadas a deposição de placas de gordura (colesterol) nos vasos sanguíneos. Assim devemos lembrar que doença coronariana, aterosclerose nas artérias carótidas, doença vascular periférica e acidente vascular cerebral (AVC), em especial o tipo isquêmico, podem ocorrer. Outras condições mais frequentes em quem tem artrite reumatoide são insuficiência cardíaca congestiva, diabetes mellitus tipo 2, osteoporose e distúrbio dos lipídios (colesterol, HDL e triglicerídeos).
A presença de comorbidades nos pacientes com artrite reumatóide é importante pois podem aumentar ainda mais a chance de um infarto do miocárdio, com conseqüente aumento da mortalidade, caso estas doenças concomitantes não sejam reconhecidas e tratadas de forma adequada.
Ainda que todo paciente com artrite reumatóide deva ser avaliado quanto à presença de patologias associadas, devemos lembrar que o subgrupo dos pacientes mais graves , com doença ativa por muito tempo, principalmente aqueles que tem exames positivos para o fator reumatoide em valores muito altos e/ou anticorpo anti-CCP positivos, tem mais chance de virem a desenvolver algumas doenças concomitantes e problemas cardiovasculares.
Em relação aos lipídios, as famosas gorduras circulantes prejudiciais a saúde, pacientes com artrite reumatoide tem mais chance de terem o HDL que é protetor em níveis reduzidos, o que traz maior risco a eles. Assim eles devem ser orientados a fazer atividade física e terem uma dieta adequada, com pouca quantidade de gorduras saturadas, açúcar e massas.
Pacientes com artrite reumatoide apresentam com frequência hipertensão arterial sistêmica e esta condição deve ser prontamente diagnosticada e tratada, considerando que a hipertensão também contribui para a maior chance de evento cardiovascular. A utilização de doses elevadas de glicocorticoides e algumas drogas utilizadas no tratamento da artrite reumatoide podem contribuir para o aparecimento da hipertensão arterial, como o uso de leflunomida ou ciclosporina.
O uso de antiinflamatórios não hormonais em pacientes com artrite reumatóide pode reduzir o efeito anti-hipertensivo de medicações como diuréticos, betabloqueadores, inibidores da enzima conversora da angiotensina e bloqueadores do receptor de angiotensina, assim eventualmente ajustes no tratamento antirreumático ou na escolha ou dose dos anti-hipertensivos pode ser necessário.
Infecções são preocupantes já que elas ocorrem com frequência mais elevadas, em particular naqueles pacientes com doença muito ativa e grave. Outras condições que aumentam a possibilidade de infecções são o uso de doses elevadas de glicocorticoides, uso de medicações como metotrexate ou imunossupressores (leflunomida, azatioprina e ciclosporina) e mais recentemente o uso dos novos agentes biológicos.
A utilização de agentes biológicos em pacientes com artrite reumatoide está indicada naqueles pacientes que não responderam a outras medicações de menor custo e também eficazes como metotrexate, sulfassalasina e leflunomida, os chamados DMARDs (drogas modificadoras da doença). Ocorre que, para utilizar agentes biológicos, o paciente deve ser alertado para a interrupção temporária da aplicação destas medicações na presença de febre ou outros sintomas que sugiram infecção concomitante, como por exemplo, tosse e expectoração, sintomas de infecção urinaria, ou suspeita de outros tipos de infecções.
Ainda que determinadas infecções sejam mais comuns no uso de agentes biológicos (tuberculose, listeriose e legionella), outras infecções bacterianas podem ocorrer e devem ser rastreadas. Todos os pacientes com artrite reumatoide que irão utilizar agentes biológicos necessitam fazer antes raio x de tórax e exame de PPD (tuberculose), previamene ao usoa da medicação prescrita, ou se devem fazer antes um tratamento de prevenção ou profilaxia para tuberculose latente (portador do bacilo, mas sem doença).
Em relação ao diabetes mellitus, pacientes com artrite reumatoide apresentam com maior frequência resistência a ação da insulina o que propiciam o aparecimento desta condição. A obesidade, a utilização de doses elevadas de glicocorticoides, assim como a utilização de betabloqueadores ou diuréticos para o tratamento da hipertensão arterial sistêmica concomitante nestes pacientes podem piorar a resistência a insulina nestes pacientes e facilitar o aparecimento do diabetes mellitus, e assim não devem ser drogas de primeira escolha do medico.
Uma doença importante é osteoporose, a qual é mais frequente em pacientes com artrite reumatoide, e aparece como consequência de vários fatores nestes pacientes. O processo inflamatório crônico, a utilização de doses elevadas de glicocorticoides por tempo prolongado podem contribuir para a perda de massa óssea. A realização de densitometria óssea pode ajudar a reconhecer precocemente este problema e quando possível deve ser realizada. Os pacientes com artrite reumatoide devem ser orientados a terem uma dieta rica em cálcio e vitamina D, devem ter boa exposição solar e novamente tem que fazer atividade física de forma regular para evitar o aparecimento ou piora da osteoporose.
Em relação a neoplasia ou câncer, devemos lembrar que esta condição é rara em pacientes com artrite reumatoide. Porém, pacientes com artrite reumato, existe uma chance maior de desenvolver aqueles câncer que estão associados com o uso do cigarro, como por exemplo pulmão. Outras neoplasias associadas com a presença de artrite reumatoide são os linfomas, e estes costumam ocorrer nos pacientes que tem doença com longo tempo de duração e doença de maior gravidade.
Finalizando este texto sobre comorbidades em pacientes com artrite reumatoide, fica claro que os pacientes devem ter um estilo de vida adequado, com atividade física regular, boa dieta, bom peso e não devem fumar. O fumo aumenta a chance de aparecimento da artrite reumatoide, determina uma evolução pior da doença, com maior gravidade, aumenta o risco de problemas cardiovasculares e ainda determina menor resposta ao tratamento antirreumático, com perda parcial da eficácia do metotrexate e do uso de agentes biológicos.
Última atualização (20/04/2011)