Quem sofre de osteoartrite, doença que afeta as articulações, tem dificuldade para movimentar-se no cotidiano e isso inclui atender à função sexual. E justamente sobre esse tema, uma reportagem do jornal O Globo comenta que a artroplastia, cirurgia de substituição de quadril ou joelho, pode melhorar a vida do indivíduo nesse aspecto.
A reportagem indica a realização de um estudo nos EUA, que envolveu 147 pacientes com menos de 70 anos, todos com dignóstico primário para uma das duas cirurgias. Esses pacientes receberam um questionário para responder antes da cirurgia, após seis meses e depois de um ano da operação.
Cerca de 60% dos indivíduos responderam a essas pesquisas. Entre os resultados, 67% relatou problemas físicos com atividade sexual antes da cirurgia; 67% reclamou de dor; 36% de rigidez,;49% de libido reduzida; e 14% de incapacidade para atingir a posição adequada. Após a cirurgia, 42% dos pacientes relataram melhora na libido; 41%, duração sexual aumentou; e 41%, aumento da frequência sexual.
Comentando o tema, o médico reumatologista Ricardo Fuller, membro da Comissão de Osteoartrite da SBR, explica que existem outros estudos que apontam para a influência das doenças articulares na função sexual, assim como evidências de que o tratamento do quadro articular tem um impacto positivo nessa esfera. Segundo Fuller, a osteoartrite pode afetar a vida sexual por diversos mecanismos: pela dor durante a relação; pelos aspectos psicológicos da doença crônica que geram insegurança e redução na libido; e pela questão física propriamente.
“Nesse aspecto, a osteoartrite dos membros inferiores pode dificultar o flexão dos joelhos, a abertura dos quadris e os movimentos pélvicos e dos membros inferiores devido à dor e redução da força”, explica, ressaltando que na maioria dos casos de osteoartrite, está indicado o tratamento clínico e não o cirúrgico. “Se bem orientado, esse tratamento pode propiciar uma grande melhora nas atividades do dia a dia e na vida sexual.”
A indicação da cirurgia, diz Fuller, se dá quando houver falha dos tratamentos medicamentosos e físicos e o paciente esteja sofrendo de dor intensa e/ou constante e limitação nos movimentos. “Para completar a indicação, é necessário também que exista a firme disposição pessoal do paciente para a cirurgia, levando-se em conta todos os aspectos da sua vida pessoal que estejam comprometidos, inclusive na esfera sexual”, diz o reumatologista, enfatizando que o paciente precisa estar bastante motivado a colaborar plenamente no pós-operatório na realização de fisioterapia intensiva. “Dessa forma, os resultados serão otimizados.”
A artroplastia
Fuller explica que existem vários tipos de cirurgia para uma articulação com osteoartrite. A artroplastia é a denominação dada à cirurgia para a troca da articulação por uma artificial, composta mais comumente por elementos metálicos e cerâmicos. “Na verdade, o que é substituído são os tecidos mais intensamente afetados pela osteoartrite: a região do osso que faz parte da articulação e a cartilagem degenerada que está sobre ele.”
Portanto, diz Fuller, permanecem os demais tecidos da articulação como ligamentos, cápsula, tendões e músculos. “Assim, sabe-se que mesmo pessoas que vão se submeter à cirurgia devem manter um tratamento contínuo de exercícios e fisioterapia antes para que estejam em condições mais favoráveis e sua recuperação seja mais rápida.” Segundo Fuller, há entretanto situações em que a cirurgia é contraindicada ou pelo menos indicada com muito mais cautela, pesando-se riscos e benefícios: “É o caso da presença de doenças associadas, tais como a diabetes e a hipertensão arterial, entre outras”, cita, ressaltando, porém, que é importante frisar que a idade mais avançada por si não contraindica o procedimento.
Cumpridos esses preceitos, diz Fuller, o resultado das artroplastias é via de regra satisfatório. Ela é realizada mais frequentemente nos joelhos e quadris, melhorando a dor e a amplitude dos movimentos. “Após um período que em média varia de um a três meses, o indivíduo adquire uma condição física bem melhor do que antes da cirurgia. Assim, existe uma evidente vantagem para a prática do ato sexual”, salienta. No caso da artroplastia do quadril, Fuller salienta que se recomenda evitar graus maiores de abertura das coxas. E ressalta que essas e outras orientações são dadas pelo médico e fisioterapeuta, caso a caso. “Não deve haver receio de que a cirurgia possa provocar limitações que atrapalhem a atividade sexua. Uma vez que os aspectos físicos e a dor melhorem, obviamente, existe uma evidente vantagem no âmbito emocional, o que repercute positivamente na libido”, salienta Fuller.