Um estudo feito na Dinamarca constatou que mulheres com menos de 50 anos, que sofrem de artrite reumatoide (doença que leva a inflamações das articulações e tecidos circundantes, de origem autoimune), têm mais probabilidade de sofrer infarto do que as que não têm a doença.
O tema foi enfocado por reportagem do jornal Diário de São Paulo, cujo texto explica ainda que, segundo o estudo, pacientes com artrite reumatoide têm índices constantes de substâncias pró-inflamatórias, como a Proteína C Reativa (PCR), que também estão presentes em doenças coronarianas.
Estas enzimas podem ferir o endotélio (camada mais interna dos vasos sanguíneos) e causar processo inflamatório que favorece o acúmulo de substâncias como lipídios (gorduras) e obstrui vasos, o que pode provocar doenças coronarianas. Conforme explica a reumatologista Licia Maria Henrique da Mota, coordenadora da Comissão de Artrite Reumatoide, da SBR, há diversos estudos anteriores ao da Dinamarca que pesquisaram aumento do risco cardiovascular em pacientes com artrite reumatoide (AR).
Segundo Licia, a prevalência de infarto do miocárdio (IAM) e insuficiência cardíaca congestiva (ICC) é de fato maior nos pacientes com AR, condições que determinam menor sobrevida a esses pacientes e maior mortalidade. “Em relação à doença coronariana, devemos lembrar que a prevalência de sintomas anginosos (dor torácica, em aperto, desencadeada ou não por esforços físicos) é menos frequente nos pacientes com AR, o que faz com que não seja raro que estes pacientes apresentem morte súbita ou infarto do miocárdio silencioso”, salienta a reumatologista.
Em relação às substâncias pró-inflamatórias, Licia explica que de fato tais marcadores inflamatórios estão mais elevados em pacientes com AR, como sinais de atividade da doença. Considerando o grupo de mulheres de menos de 50 anos, abordados pelo estudo, Licia levanta um aspecto interessante. Segundo ela, mulheres nessa faixa etária que não sofrem da doença, antes da menopausa apresentam uma proteção relativa contra os eventos decorrentes da aterosclerose, como o infarto.
“No entanto, no caso da artrite reumatoide, o processo inflamatório sistêmico que caracteriza a doença retira essa proteção, ou seja, mesmo mulheres abaixo dos 50 anos correm maior risco de infartar”, esclarece Licia.
Acompanhamento
Segundo a reportagem do jornal Diário de São Paulo, estudos como o realizado na Dinamarca apontam para a necessidade de que cardiologistas acompanhem o tratamento de pacientes com AR. E, conforme Licia, é sim necessário que o reumatologista, assim como o cardiologista, estejam muito atentos para o maior risco de infarto do miocárdio na população de pacientes. “Embora o tratamento da AR reduza o risco de infarto do miocárdio, deve-se ficar claro que tratar comorbidades como diabetes mellitus tipo 2, dislipidemia (colesterol alto) e hipertensão arterial sistêmica nestes pacientes é importante”, ressalta a reumatologista.
Outro aspecto a ser abordado, diz ela, é a cessação do tabagismo nos pacientes com AR. “Sabe-se que o tabagismo, além de determinar maior risco de doença cardiovascular, aumenta o risco do aparecimento de AR em pessoas que tenham predisposição genética, aumenta também a gravidade do quadro articular e está associado com manifestações extra-articulares da doença.
Assim, salienta Licia, o reumatologista deve levar todos esses fatores em consideração ao acompanhar o paciente, “e, em caso de necessidade, em especial em pacientes com outros fatores de risco e acima dos 50 anos, deve-se solicitar o acompanhamento conjunto do cardiologista”.
Jornalista Responsável: Maria Teresa Marques