Especialista alerta que evidências científicas são cruciais para atestar segurança e eficácia para esses pacientes. Entenda.
Desde o início da pandemia de COVID-19, ainda no fim de 2019 na China, a vacina se tornou objeto de desejo da população. E isso se intensificou à medida que o novo coronavírus se espalhou pelo mundo.
Agora, com algumas nações já em processo de vacinação e a possibilidade de que os brasileiros estejam imunes em breve, algumas dúvidas começam a surgir quanto a quem pode ou não, de fato, se vacinar. É o caso de pessoas portadoras de doenças autoimunes.
Isso porque, haja vista que o objetivo da vacina – provocar o sistema imunológico a produzir anticorpos para se defender contra algum agente infeccioso –, como pacientes com o sistema imune já parcialmente comprometido podem ser imunizados sem correr riscos maiores? De acordo com a presidente da Sociedade Mineira de Reumatologia (SMR), Mariana Peixoto, essas pessoas podem, sim, se vacinar, mas é preciso cautela em alguns aspectos.
“Portadores de doenças reumáticas imunomediadas apresentam uma desregulação no sistema imune, o que acaba por gerar uma inflamação exacerbada ou uma agressão ao organismo na tentativa de protegê-lo de bactérias e vírus. Por isso, o tratamento dessas doenças exige medicamentos que controlem e inibam parcialmente a resposta imunológica.”
Dessa maneira, os pacientes podem estar mais propensos a alguns tipos de infecção, desenvolvendo-as de forma mais grave. “Nesse cenário, alguns casos não devem receber vacinas de vírus vivo atenuado, pelo risco de desenvolvimento da doença na sua forma ativa”, aponta.
Porém, segundo Mariana Peixoto, as vacinas contra o Sars-Cov-2 não seguem essa linha de produção, visto que uma delas, a Coronavac é produzida com o vírus morto, enquanto que a de Oxford, por exemplo, é feita com o RNA mensageiro. Isso infere que não há possibilidade de que os pacientes portadores de doenças autoimunes desenvolvam a doença ou tenham complicações. “Deste modo, essas pessoas podem tomar a vacina. Mas no momento adequado e com segurança.”
“Recomenda-se que os pacientes com alta atividade de doença possam aguardar um melhor controle da patologia para, só então, fazerem uso da vacina. Outro ponto importante é que os pacientes imunocomprometidos podem ter uma resposta vacinal (nível de proteção) reduzida, o que não contraindica o seu uso, estando a indicação mantida.”
Devemos ressaltar que não foram realizados testes em nenhum país, com nenhuma das vacinas em desenvolvimento em pacientes portadores de doenças reumáticas imunomediadas. Portanto, assim que testes forem feitos em todas as populações especiais, teremos mais respostas exatas”, explica.
ORIENTAÇÕES
Em razão da necessidade de informação aos pacientes portadores de doenças autoimunes no quesito vacinação, a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) emitiu um guia com orientações sobre a imunização contra a COVID-19 em pacientes com doenças reumáticas imunomediadas (DRIM).
Segundo o documento, a recomendação é a de que a decisão a respeito da vacinação seja tomada de forma individual e compartilhada entre médico e paciente. Isso porque os doentes podem apresentar desregulação imune por causa da doença e imunosupressão devido ao tratamento.
“Diante da ausência de evidências, até a presente data, quanto à segurança e à eficácia das vacinas contra Sars-Cov-2 nesta população, que apresenta desregulação imune pela doença de base além da imunossupressão causada por seu tratamento, é esperado que o reumatologista esteja familiarizado e se mantenha atualizado sobre as características, eficácia e segurança das vacinas contra COVID-19 para melhor orientar seus pacientes, considerando tanto a situação epidemiológica local quantos os riscos e benefícios desta tomada de decisão compartilhada”, diz o documento.
Outros fatores a serem considerados são faixa etária e comorbidades, como cardiopatias, diabetes mellitus, hipertensão arterial, obesidade, doença renal crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica, que são associadas a um maior risco de hospitalização e mortes relacionadas ao novo coronavírus. O guia recomenda que, nesses casos, a vacinação, ocorra quando a doença estiver estável ou em remissão, e o paciente estiver sem ou com baixo grau de imunossupressão. Entretanto, o médico pode discutir com o paciente o momento para a imunização.
“Algumas comorbidades, como cardiopatias, diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, obesidade, doença renal crônica e doença pulmonar obstrutiva crônica, estão associadas a um maior risco de hospitalização e óbito relacionados ao novo coronavírus, justificando a vacinação dos indivíduos com DRIM, portadores de tais condições, no grupo prioritário. Preferencialmente, o paciente deve ser vacinado estando com a doença controlada ou em remissão, como também em baixo grau de imunossupressão ou sem imunossupressão. Esta não é uma condição imprescindível para que o paciente seja vacinado, mas um cenário ideal”, informa o guia da SBR.
SEGURANÇA E EFICÁCIA
Ainda de acordo com Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBM), nenhuma das vacinas é feita com o vírus atenuado, o que confere maior confiabilidade, segurança e eficácia para pessoas com doenças autoimunes. Porém, o documento destaca que os estudos ainda são rasos no que tange à população portadora de doenças autoimunes. Portanto, a princípio, deve-se seguir as orientações dos órgãos públicos de saúde até que novas diretrizes sejam incorporadas e divulgadas.
“Devem ser observadas as peculiaridades dos resultados dos estudos, assim como as recomendações dos fabricantes. Além disso, vale ressaltar que em nenhum dos ensaios clínicos de fase III houve a inclusão de pacientes com comprometimento do sistema imune, seja por doença imunomediadas seja pelo uso de imunossupressores. Recomendamos seguir as orientações dos órgãos de saúde locais até que novas evidências ou recomendações estejam disponíveis e este documento possa ser atualizado”, indica. Para acessar o guia na íntegra, acesse o pdf divulgado pela Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) aqui.
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