Uma reportagem publicada no jornal Zero Hora traz entrevista de um ortopedista mencionando que ficar muito tempo sentado causa nos joelhos um problema chamado condropatia, que, segundo o texto, seria um mal que atinge a cartilagem da patela ou da tróclea, região do fêmur onde a patela se articula. Entretanto, segundo o coordenador da Comissão de Osteoartrite da SBR, o reumatologista Francisco Airton Castro da Rocha, o texto da reportagem necessita de alguns comentários.
Para começar, explicando o que seria condropatia, Rocha explica que esse é um termo vago, que poderia significar problema, doença do condrócito (célula presente na cartilagem) ou da cartilagem como um todo. “Acho que o autor quis dizer condromalacia, que ao pé da letra significa amolecimento ou degeneração da cartilagem”, salienta Rocha.
Quanto à afirmação de que sentar por muito tempo causa condropatia, Rocha diz que não há nenhum dado científico para provar isso: “Um movimento considerado ruim para o joelho seria a hiperflexão, como nos agachamentos. Os movimentos de subir e descer escadas são conhecidos por piorar sintomas em pacientes com problemas nos joelhos. Mas isso não quer dizer que sejam causa de condropatia”, diz ele, que faz questão de acrescentar que esse termo, condropatia, inexiste tecnicamente.
Para outra afirmação da reportagem, de que a condropatia é irreversível, novamente Rocha salienta que o termo não existe: “Acho que o autor quis dizer condromalacia. Se for o caso, não há estudo conclusivo, mas pode-se dizer que a cartilagem, uma vez danificada em certo grau, não se regenera completa e adequadamente”.
Mas o que seria muito tempo sentado? Quantas horas nessa posição seriam prejudiciais ao joelho?
Nesse caso, Rocha explica que essa resposta simplesmente não existe, pois vários fatores teriam de ser levados em consideração, como a altura do assento, o tamanho da pessoa, peso, a presença de repouso para os pés. “Não há estudos, ao meu conhecimento, que tenham documentado. Como regra geral, longos períodos, por exemplo mais que duas horas, que pode até ser considerado um tempo arbitrário, dificultam o retorno do sangue pelas veias, podendo provocar sintomas de cansaço nas pernas e sinais como inchaço”.
Entretanto, quanto ao joelho, Rocha reafirma que não há nenhum dado nesse sentido. Ainda segundo o texto do Zero Hora, um joelho acometido pela condropatia (ressaltando novamente que o termo tecnicamente não existe) acabaria tendo efeitos negativos no outro joelho. Aqui Rocha é taxativo: “Lamentavelmente se trata de uma afirmação muito infeliz, pois não há qualquer dado para comprovar tal fato. Como parece óbvia, a tendência é que as pessoas acreditem. Mas isso não quer dizer que haja verdade científica”, salienta.
E quanto à dúvida eventual de que idade influencia na ocorrência de problemas nos joelhos, Rocha nega, dizendo que algum mal pode surgir em jovens, que muitas vezes não são sequer obesos. Rocha enfatiza por fim que o maior problema por ficar muito tempo sentado ou de pé é o circulatório. “Mas as doenças articulares que acometem os joelhos, qualquer delas, como a osteoartrite ou a artrite reumatoide, provocam desconforto quando os pacientes fazem uso dessa junta ou seja, ficam de pé, sentados, ou andam bastante.
Assim, nos cuidados de prevenção, Rocha inclui exercícios de extensão e alongamento, bem como de fortalecimento dos músculos, são benéficos sempre, desde que orientados. Independentemente de a pessoa ter problema, perceberá benefícios.
Jornalista Responsável: Maria Teresa Marques